Resiliência pode virar vantagem competitiva; saiba como construí-la

Em artigo, especialistas mostram novas maneiras de desenvolver a habilidade e evitar problemas de saúde mental

Por Javier Casademunt, Rodrigo V Cunha e Simon Dolan, Para o Valor

Os problemas de saúde mental, especialmente no local de trabalho, tornaram-se uma nova pandemia global que permanecerá mesmo com a arrefecimento da covid-19. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), houve um aumento de 25% nos últimos dois anos para cá nos casos de ansiedade geral e depressão em todo o mundo. O custo é de cerca de 12 bilhões de dias de trabalho perdidos anualmente e US $1 trilhão de impacto para a economia global, de acordo com a OMS.

Um estudo da Deloitte mostra que a prevalência global de ansiedade e estresse é estimada em aproximadamente 50% nas pessoas que compõe a geração de trabalho mais jovem no mundo corporativo, a chamada Geração Z, que engloba pessoas que nasceram entre 1995 e 2010. Já entre os millennials (também chamados de geração Y), grupo que abarca os nascidos entre 1981 e 1995, este número é de cerca de 40%. A soma disso virou uma ameaça global para toda as organizações, pois em 2025, só a Gen Z representará 27% da força de trabalho global.

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Neste contexto global, ganha força a importância do desenvolvimento de resiliência, capacidade de se adaptar com sucesso diante do estresse e das

adversidade, habilidade que pode virar uma vantagem competitiva. Quando falamos em futuro do trabalho em um ambiente de aceleração da crise climática, organizações bem- sucedidas serão aquelas com foco em programas estratégicos de saúde mental. Essa será a principal maneira de combater o absenteísmo e a boa notícia é que a resiliência pode ser treinada por meio de práticas cognitivas e comportamentais específicas.

Estudos científicos na área da neurociência nutricional, por exemplo, apresentam novas perspectivas para tratar a ansiedade por meio do microbiota do intestino, sendo uma das maneiras de construir e fortalecer resiliência. Um recente artigo publicado em 2021 pela Universidade de Harvard e Universidade de Oxford mostra que intervenções nutricionais deveriam ser consideradas por profissionais de saúde por seu baixo risco e alto potencial efetivo. Estamos falando de, por exemplo, evitar adoçantes artificiais e glúten, incluir ácidos graxos ômega-3 e açafrão na dieta, suplementação de vitamina D e dietas cetogênicas.

Por mais estranho que isso possa soar se pensarmos no mundo corporativo de pouco mais de cinco anos atrás, intervenções baseadas na neurociência nutricional, na autoconsciência emocional e nas técnicas de controle da mente e alimentação neuro-saudável, são ótimas maneiras de cuidar da saúde mental.

Hábitos e práticas específicas podem gerar o entorno bioquímico adequado no cérebro, promovendo a resiliência, juntamente com ferramentas que geram descoberta e alinhamento comos valorese propósito dos indivíduos. Somados, estes elementos têm se mostrado eficazes para tratar problemas de saúde mental, fortalecendo a resiliência e o incremento da satisfação no trabalho, engajamento e desempenho.

Sem técnicas mirabolantes, o “santo graal” do mundo corporativo parece mais próximo do que nunca. Afinal, cuidar das pessoas continua sendo o melhor remédio para a realização pessoal e no trabalho.

Autores

Javier Casademunt

*Javier Casademunt é diretor da Global Future of Work Foundation no Brasil e professor associado na ESADE Business School.

*Rodrigo V Cunha é autor de “Humanos de Negócios” e CEO da Profile.

*Simon Dolan é presidente da Global Future of Work Foundation, pesquisador sênior e professor na Advantere School of Management.